sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Entrevista com Kamau



Fotografia por Luciana Faria

Concedida em Novembro de 2010

Kamau é um dos mc's que está sempre em evidência no rap nacional, principalmente depois de ter lançado o seu elogiado álbum “Non Ducor Duco”, que é considerado um dos melhores discos de rap dos últimos anos. Muitos sabem de sua história na rua, que já vem de alguns anos, seja no rap ou no skate, e para o Sampleologia é um prazer ter a entrevista. Obrigado Kamau.


- Qual é a sua atuação na criação de um instrumental? Você atua como beatmaker, produtor?
Eu me considero beatmaker amador e produtor palpiteiro. Eu ainda não estou no nível de produções que gostaria de estar e tenho amigos beatmakers muito talentosos, e produtores também, que me permitem ficar no banco do passageiro durante o processo...


- Hoje em dia, o acesso a um computador e a softwares é fácil, e muitos novos beatmakers têm surgido graças a essa facilidade. Que consequências você vê nisso?
Poucos dedicam seu tempo para aprender o máximo possível antes de mostrar seu trabalho ao mundo. Muitos se acham prontos cedo demais. Mas alguns poucos talentosos conseguem se destacar em meio ao mar de mesmos...


- O que você acha das fontes de sample? Faz diferença, de alguma forma, extrair o áudio de um vinil, por exemplo? Existe um valor cultural histórico nisso?
A qualidade de áudio do vinil em perfeito estado é melhor para alguns, mas tudo acaba se convertendo em placas digitais não-apropriadas para a captação de áudio. Mas a pesquisa dos vinis faz muita diferença no conhecimento musical de quem os adquire. Fico muito mais interessado em conhecer o trabalho de um artista quando compro o vinil e leio as informações nele contidas.


- Que beatmaker você acha inovador na arte de cortar samples? E o que acha dos samples em bloco, aqueles que usam um grande trecho da música original quase sem alterações?
Cada produtor tem sua maneira de "abordar" a música. Uns sampleiam loops, outros recortam samples, outros aliam samples e instrumentos virtuais, outros preferem instrumentos reais.
Gosto muito do 20 Syl nos dois discos mais recentes do Hocus Pocus. DJ Premier e Pete Rock estão na lista para sempre. J Dilla era bem versátil nos recortes, loops e instrumentações. Madlib acha ótimos loops, independente da duração. Just Blaze, No ID, Black Milk, Waajeed. Hordatoj, que produziu o disco da Ana Tijoux- 1977.
Quanto a usar loops grandes ou não, depende da visão do produtor. É muito fácil falar: “Ele não fez nada aí”. Mas ele simplesmente FEZ. Se o resultado for uma música boa, só recalcados ficarão falando do tamanho do loop.


- Na produção de rap, que beatmakers brasileiros se destacam hoje?
Gosto muito do Nave, Parteum, Som 3, Renan Samam, Casp, Laudz e Thew Franklin, entre outros.


- Alguns músicos questionam a legitimidade do sample como composição. Sample é uma composição? É uma criação musical?
É uma recriação, uma reciclagem. Não cabe a mim definir se é composição ou criação. Mas sou adepto do sample e gosto de boas instrumentações e criações musicais.


- Como foi o processo de escolha dos instrumentais do álbum “Non Ducor Duco”? A faixa “Vida” por exemplo (Que pelo que tudo indica não tem uso de sample) é o ápice do disco na questão sintonia entre letra + instrumental. Como se desenrolou?
Eu procurei o melhor clima para cada tema que eu tinha. “Non Ducor Duco” foi concebido como um álbum com começo, meio e fim. Cada tema tinha que ter sua própria trilha sonora e escolhi as pessoas que podiam providenciar cada uma dessas trilhas. Já sabia que podia contar com alguns, como DJ Primo e Parteum, mas fiquei muito feliz em encontrar muita sintonia com o Nave, de Curitiba. Quero muito fortalecer nossa parceria musical. Suissac e Munhoz foram muito importantes também nesse processo. A base de “Vida” foi algo que encontrei com o Munhoz depois de muito procurar e da ideia crua dele a música foi só melhorando.
Agradeço a todos os produtores que trabalharam comigo nesse disco.


- Como de costume, para finalizar, um espaço livre pra você se expressar.
Fortaleçam a música em que acreditam pra que ela tenha continuidade. E viva a música boa através dos tempos!

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