Fotografia por Luciana Faria
Concedida em Novembro de 2010
Kamau é um dos mc's que está sempre em evidência no rap nacional, principalmente depois de ter lançado o seu elogiado álbum
“Non Ducor Duco”, que é considerado um dos melhores discos de rap dos últimos anos. Muitos sabem de sua história na rua, que já vem de alguns anos, seja no rap ou no skate, e
para o Sampleologia é um prazer ter a entrevista. Obrigado Kamau.
- Qual é a sua
atuação na criação de um instrumental? Você atua como beatmaker, produtor?
Eu me considero
beatmaker amador e produtor palpiteiro. Eu ainda não estou no nível de
produções que gostaria de estar e tenho amigos beatmakers muito talentosos, e
produtores também, que me permitem ficar no banco do passageiro durante o
processo...
- Hoje em dia, o
acesso a um computador e a softwares é fácil, e muitos novos beatmakers têm
surgido graças a essa facilidade. Que consequências você vê nisso?
Poucos dedicam seu
tempo para aprender o máximo possível antes de mostrar seu trabalho ao mundo.
Muitos se acham prontos cedo demais. Mas alguns poucos talentosos conseguem se
destacar em meio ao mar de mesmos...
- O que você acha
das fontes de sample? Faz diferença, de alguma forma, extrair o áudio de um
vinil, por exemplo? Existe um valor cultural histórico nisso?
A qualidade de
áudio do vinil em perfeito estado é melhor para alguns, mas tudo acaba se
convertendo em placas digitais não-apropriadas para a captação de áudio. Mas a
pesquisa dos vinis faz muita diferença no conhecimento musical de quem os
adquire. Fico muito mais interessado em conhecer o trabalho de um artista
quando compro o vinil e leio as informações nele contidas.
- Que beatmaker
você acha inovador na arte de cortar samples? E o que acha dos samples em
bloco, aqueles que usam um grande trecho da música original quase sem
alterações?
Cada produtor tem
sua maneira de "abordar" a música. Uns sampleiam loops, outros
recortam samples, outros aliam samples e instrumentos virtuais, outros preferem
instrumentos reais.
Gosto muito do 20
Syl nos dois discos mais recentes do Hocus Pocus. DJ Premier e Pete Rock estão
na lista para sempre. J Dilla era bem versátil nos recortes, loops e
instrumentações. Madlib acha ótimos loops, independente da duração. Just Blaze,
No ID, Black Milk, Waajeed. Hordatoj, que produziu o disco da Ana Tijoux- 1977.
Quanto a usar
loops grandes ou não, depende da visão do produtor. É muito fácil falar: “Ele
não fez nada aí”. Mas ele simplesmente FEZ. Se o resultado for uma música boa,
só recalcados ficarão falando do tamanho do loop.
- Na produção de
rap, que beatmakers brasileiros se destacam hoje?
Gosto muito do
Nave, Parteum, Som 3, Renan Samam, Casp, Laudz e Thew Franklin, entre outros.
- Alguns músicos
questionam a legitimidade do sample como composição. Sample é uma composição? É
uma criação musical?
É uma recriação,
uma reciclagem. Não cabe a mim definir se é composição ou criação. Mas sou
adepto do sample e gosto de boas instrumentações e criações musicais.
- Como foi o
processo de escolha dos instrumentais do álbum “Non Ducor Duco”? A faixa “Vida”
por exemplo (Que pelo que tudo indica não tem uso de sample) é o ápice do disco
na questão sintonia entre letra + instrumental. Como se desenrolou?
Eu procurei o
melhor clima para cada tema que eu tinha. “Non Ducor Duco” foi concebido como
um álbum com começo, meio e fim. Cada tema tinha que ter sua própria trilha
sonora e escolhi as pessoas que podiam providenciar cada uma dessas trilhas. Já
sabia que podia contar com alguns, como DJ Primo e Parteum, mas fiquei muito
feliz em encontrar muita sintonia com o Nave, de Curitiba. Quero muito
fortalecer nossa parceria musical. Suissac e Munhoz foram muito importantes
também nesse processo. A base de “Vida” foi algo que encontrei com o Munhoz
depois de muito procurar e da ideia crua dele a música foi só melhorando.
Agradeço a todos
os produtores que trabalharam comigo nesse disco.
- Como de costume,
para finalizar, um espaço livre pra você se expressar.
Fortaleçam a
música em que acreditam pra que ela tenha continuidade. E viva a música boa
através dos tempos!