Mestre Arthur Verocai, muito obrigado
por gastar seu tempo precioso com nossa entrevista. É de imensa importância
pros nossos estudos as palavras de um artista como você. Muito grato.
- Quando
foi a primeira vez que você foi, ou ficou sabendo que foi sampleado? Qual foi a
sensação de saber que sua música estava sendo reutilizada na produção de uma
outra música, e o que achou disso?
Arthur: A primeira vez oficialmente foi em
2005, pelo Little Brother. Foi uma sensação nova, pois os conceitos são bem
diferentes de uma música normalmente feita até então. No início, não entendi
direito, mas depois tudo bem.
- Você considera os produtores e DJs de
rap estadunidenses os responsáveis pela boa repercussão do seu agora clássico
disco homônimo?
Arthur: De certa forma, sim, para a turma do
hip-hop americano, pois o disco já tinha emergido no resto do mundo. Por isso,
foi relançado em 2003, nos EUA.
- O que você acha do disco ter sido
ignorado pela maioria do público consumidor na época do lançamento e, hoje, a
rapaziada jovem estar curtindo? O disco era realmente avançado demais para a
época?
Arthur: Ninguém gosta de ver seu trabalho
ignorado. Na época, foi desagradável, mas depois, com o reconhecimento, fiquei
satisfeito. Quem disse que eu estava a frente do meu tempo foi a imprensa
americana.
- Tem notícia de algum produtor
brasileiro que já tenha sampleado seu trabalho?
Arthur: Não.
- Nos EUA e nos países em que foi
sampleado, a questão dos direitos autorais é justa? Qual é a sua opinião sobre
o uso indevido de suas obras?
Arthur: Acho que a música popular é feita de
melodia e letra. No caso, o sample faz a melodia e o rapper, a letra. Portanto,
existe uma parceria e esta deve ser creditada aos autores, tanto da música
quanto da letra.
- A música “Na boca do sol” é campeã
entre as suas sampleadas. O que há de mais interessante na sua música que chama
a atenção dos produtores de rap?
Arthur: É uma pergunta que deve ser feita para
os que samplearam.
- Alguns músicos questionam a
legitimidade do sample como composição. Qual é a sua opinião quanto a isso?
Sample é uma composição? É uma criação musical?
Arthur: Encaro o sample com uma criação
fonográfica-musical feita a partir de uma criação musical.
- Você participou do disco single “Tema
do canibal”, do produtor de rap BK-One, com uma belíssima composição que abre o
lado B do disco (no caso do vinil). Aconteceu então o processo inverso, um
produtor de rap o convidando para compor uma música baseada em uma composição
dele. O que achou de tudo isso? E qual foi a participação do DJ Nuts na produção
dessa faixa?
Arthur: Não acho que foi um processo inverso, e
sim o desenvolvimento de uma frase musical que fazia parte da música original.
Foi interessante fazer uma coisa nova e posso dizer que o DJ Nuts foi o
produtor.
- Aqui um espaço livre pras suas palavras,
mestre.
Arthur: Considero um sample bem feito uma
criação fonográfica-musical que está intimamente ligada com o discurso do
intérprete.