sábado, 17 de março de 2012

Entrevista com Dj Lx (Stereodubs)



Lx como dj trabalha com alguns artistas de renome no Brasil, como Flora Matos e Black Alien. Como produtor compõe a dupla Stereodubs, e foi com ele que rolou essa boa troca de informações. Obrigado Lx.

- Lx, como se deu a sua parceria musical com Léo Grijó, formando o Stereodubs, e qual era a intenção inicial do projeto?

Lx: A parceria começou assim que eu cheguei em São Paulo, no início de 2009. O Léo já morava aqui havia algum tempo e, por coincidência, fomos dividir o mesmo apartamento com outro amigo. Conversando, começamos a mostrar uns trabalhos um para o outro e vimos que tínhamos a mesma ideia em comum: produzir usando elementos pouco usados no Brasil até então. Eu cheguei com a veia de beatmaker e ele veio com a veia de músico. A intenção inicial era mesclar reggae, dub, ragga e música brasileira ao rap, e fazer um projeto diferente, inovando com timbres de música eletrônica.

- Hoje em dia, o acesso a um computador e softwares é fácil, e surgem muitos novos beatmakers graças a essa facilidade. O que você vê de consequência nisso?

Lx: Acho que esse fácil acesso gerou um paradoxo muito louco, porque ao mesmo tempo em que aparecem novos talentos, também gera uma quantidade grande de “lixo”. Existem aqueles que correm atrás, estudam e pesquisam até chegar numa segurança de poder jogar o trabalho na rua com qualidade. E, do outro lado, vêm aqueles que começam a fazer um beat ali e já se dizem “produtores”, e soltam bases de qualquer jeito, músicas de qualquer jeito, sem uma qualidade considerável.

- Como é a relação do Stereodubs com o sample? O mais conhecido trabalho do Stereodubs, disco em parceria com a Flora Matos, contém samples? Como foi o processo de construção musical desse disco?

Lx: A gente trabalha bastante com samples, basicamente em 50% ou mais das nossas produções. No EP com a Flora, de nove músicas, três foram sampleadas, e foi feito um complemento com mais instrumentos.
Esse disco foi feito em 52 dias e a gente trabalhou muito pela internet. A gente mandava os beats bem no começo e ela já gravava uma guia em casa, pra gente harmonizar o instrumental. Alguns beats a gente já tinha pronto e, quando ela chegava com a letra, a gente já gravava. Esse EP foi feito com muito amor, na sala de um apartamento, e a cabine para gravar voz era de colchões e cobertores, tudo colado com fita (risos).

- O Stereodubs caminha entre o rap e reggae, correto? E muito pouco se sampleia reggae nos raps de hoje. Essa é uma proposta do Stereodubs ?

Lx: Correto. Não chega a ser uma proposta , mas acho que os ritmos jamaicanos ainda têm muito a serem explorados, ao contrário da black music antiga, por exemplo, que já vem sendo sampleada desde o começo em grande escala. A gente só tenta fugir um pouco da mesmice e fazer um som diferenciado.

- O que você acha das fontes de sample? Faz diferença, de alguma forma, extrair o áudio de um vinil, por exemplo? Existe um valor cultural e histórico nisso?

Lx: Dizendo por mim, eu faço questão de manter essa “tradição” de ir garimpar, pesquisar sebos e ir correndo para casa, para ouvir aquilo e ver o que encontro de bom numa bolacha. Sinto prazer em fazer isso, ouvir um por um, comemorar quando vem aquele sample bom, ou reclamar quando não vem nada (risos). Aprendi assim e vou levar assim para sempre.
Mas é lógico que, às vezes, também encontro um sample muito foda num CD ou MP3 que não acho em vinil, e uso sem problema nenhum. E tenho a mania de... se acho o vinil anos depois, com algum sample que usei, eu compro ele mesmo assim, para ficar guardado como registro.
Faço questão também de samplear e fazer todas as baterias na MPC. Mesmo que não recorte o sample nela, eu passo por ela mesmo assim. As baterias são 100% nela.

- Na produção de rap, que beatmakers brasileiros você acha que se destacam nos dias de hoje?

Lx: Gosto do Nave, Sala 70, Laudz, Renan Samam, Luiz Café, Munhoz, Dario e DJ Caíque. E tem os que gosto que se destacam há mais tempo, como Daniel Ganjaman, Zegon, DJ Cia e o KL Jay.

- Alguns músicos questionam a legitimidade do sample como composição. Sample é uma composição? É uma criação musical?

Lx: Com certeza !!! Acho que se você desconstrói uma musica recortando e monta ela de outro jeito, já virou outra composição. Até mesmo pegando um sample de loop completo e adicionando outra linha de bateria por cima, ou até instrumentos, você está criando outra música ali, colocando a identidade e alma em cima.

- Para onde caminha o futuro das produções de rap na sua opinião? Nos samples e instrumentos digitais, ou nos instrumentos acústicos e elétricos?

Lx: Acho que vai continuar caminhando de todas as formas. Tem gente que gosta de fazer beat só com sample, tem gente que gosta de tocar tudo, ou misturar sample com mais instrumentos, e por aí vai. O Stereodubs, mesmo, trabalha com todas essas opções.
Acho que vai da necessidade ou da limitação de cada um. Às vezes, um músico não tem a manha de recortar samples e um beatmaker não sabe tocar instrumentos. Então cada um trabalha do jeito que lhe convém.

- Pra finalizar, a palavra é sua.

Lx: Primeiramente, muito obrigado pelo espaço. Acompanho o blog sempre e acho que é um espaço bem legal de compartilhamento de ideias e opniões. Gostaria também de anunciar que nos juntamos a uma escola de produção musical e abrimos um curso de produção de beats, e um de DJ. O pensamento nisso é tentar ajudar a quem se interessa, e passar um pouco do nosso conhecimento.
Esse é o link: http://ime.mus.br/

Obrigado.