terça-feira, 4 de outubro de 2011

Entrevista com Dj Nuts



Nuts, muito obrigado por aceitar responder as questões da nossa entrevista. É de imenso prazer poder trocar palavras com um dos maiores mestres do vinil no Brasil, um exímio pesquisador de música brasileira, e que nos presenteia vez em quando com a amostra de pedras raras da nossa cultura musical envolvidas com a técnica apurada das suas mixagens. O rei das embaixadinhas nos toca-discos. Obrigado.


- Você produziu faixas de um dos mais clássicos discos de rap nacional, o Eu tiro é onda primeiro álbum solo do Marcelo D2, já usando a mistura de samba com rap através de samples. Naquela época já existia alguma referência para fazer essa mistura? 
Não foi primeira vez que samplearam "Brasil". Ao mesmo tempo, eu não tinha referência de identidade ao começar o disco. Tinha algumas batidas nessa ideia e o Marcelo tinha ouvido e resolveu usar. Marcou para mim, foi além de batidas adicionar o trabalho de músicos como João Donato e Dom um Romão. Também o standart de gravação e acabamento que o rap nacional até então não tinha visto. Um disco que possibilitou minhas primeiras experiências na Akai MPC. Fiz o disco quase todo em um fim de semana, aprendendo a mexer nesse equipamento.

- Hoje em dia, o acesso a um computador e a softwares é fácil, e muitos novos beatmakers têm surgido graças a essa facilidade. Que consequências você vê nisso?
Mais gente fazendo, não vejo mal nisso, é fundamental até mesmo para que as pessoas vejam a diferença entre todos. O que eu gosto é ver gente com menos recursos fazendo batidas mais legais do que os que têm estúdio e toda estrutura, até mesmo porque quando comecei era essa a onda. Hoje em dia muita gente vem me falar sobre novas tecnologias e tal, e continuo trabalhando com emulator SP 1200, e na estrada usando MPC 500, pois funciona a pilha e é muito legal fazer em qualquer lugar, no avião, ou no quarto de hotel, sampleio do iPod, pois nesse tenho discos que digitalizei e kits de bateria para viagem.

- O que você acha das fontes de sample? Faz diferença, de alguma forma, extrair o áudio de um vinil, por exemplo? Existe um valor cultural histórico nisso?
Não no resultado, e sim pessoalmente para cada um. Eu sou colecionador, coleto minhas próprias amostras e cuido de limpar todos os meus kits de bateria por questão de ética pessoal. Para mim, não tem como fazer uma batida usando a batida de alguém.

- Um dos seus mix CDs tem o título de Cultura Cópia. Por que esse título?

É uma referência à influência norte-americana na música brasileira da época.

- Que beatmaker você acha inovador na arte de cortar samples? E o que acha dos samples em bloco, aqueles que usam um grande trecho da música original quase sem alterações?
A originalidade pode morar em tudo isso. Veja que às vezes posso achar um trecho sendo longo tendo certeza que ninguém vai saber de onde é que saiu. Na minha visão, fazer batidas tem a ver com achados em garimpo, assim como os produtores que são minha influência, todos esses fizeram as pessoas procurarem os discos que por eles foram usados. Esse é o barato para mim. Tenho acervo grande, pois comecei faz tempo. Hoje em dia é dificil começar a colecionar, essa nova geração se desinteressou em discos devido ao difícil acesso e ao preço elevado nos dias de hoje. Então, optaram por outro caminho de softwares e controladores, e ficar vendo quem sampleou quem na internet e tal, que é normal também. Dou muito mais valor para o pessoal que frequenta sebos atrás de amostras de som que não estão em discos caros exatamente.

- Na produção de rap, que beatmakers brasileiros se destacam hoje?

Não vou destacar ninguém para despertar aqueles que são bons para o seu potencial, estão se dedicando para fazer algo tão bom quanto alguma coisa que deu certo na “Norte América”. Para mim, cada um poderia pegar essa energia toda e canalizar para fazer algo original. Eu não tô fora dessa cobrança, é minha missão também e de alguns por aqui. O brasileiro se mostra complexado em querer provar que pode chegar no mesmo resultado que os gringos. Isso vem desde sempre na nossa cultura, pegar o que vem de fora - não tirando o mérito de ninguém, pois muitas vezes essas tracks chegam em bom resultado nas pistas e a festa agradece.

- Você acha que uma versão sampleada pode chegar ao nível de sua original?

Às vezes, mais interresantes para os jovens, assim como
Jay electronica Exibit C é um dos chops mais legais da atualidade em cima do "Cross my heart".

- Alguns músicos questionam a legitimidade do sample como composição. Sample é uma composição? É uma criação musical?

É composição de qualquer jeito, justificada na criação. Se existe, é porque foi composta, não importa se lhe agrada ou não. O músico se sente machucado quando “roubam” a obra toda, até entendo. A única regra é quando o disco tem uma perspectiva comercial, é certo pedir autorização ao dono e negociar a porcentagem pelo uso. O problema é que, nos dias de hoje, caíram muito todos esses números, devido à baixa da indústria musical. Ouvi dizer de autores processando por samples e gastando mais com advogados, pois o dinheiro não está mais lá.

- O sample é também uma espécie de resgate de músicas de décadas atrás que foram esquecidas? Os artistas antigos entendem assim também?

Alguns desses artistas estão em clima de resgate e ficaram felizes com isso. Destaque mais para a Cláudia, sampleada pelo Nave no track "Desabafo" (Marcelo D2), foi grande coisa, gostei. Fora isso, Jay-Z usando Marcos Valle e negociando porcentagens. Arthur Verocai me perguntando se eu conheço um rapper chamado Ludacris... e disse "Ele me sampleou". Expliquei que há uma boa diferença entre um artista independente como MF Doom o samplear e um rapper comercial como o Ludacris.

- Você é DJ e beatmaker, certo? Você pretende atuar musicalmente em mais alguma área fora as duas?

Colecionismo. Desperta todo o meu interesse. Dedico meu tempo para isso.

Se quiser saber mais do Dj nuts, seu trabalho e baixar seus mix cd's, acesse seu blog:

3 comentários:

  1. Valeu pelo material Sampleologia! E valeu pelos esclarecimentos, nuts!

    Longa vida a música feita pela música!

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  2. MUITO BOM, favoritei.. a entrevista ficou densa e citar o Verocai foi foda !!! palavras do KL JAY incisivas

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