Lx como dj trabalha com alguns artistas de renome no Brasil, como Flora Matos e Black Alien. Como produtor compõe a dupla Stereodubs, e foi com ele que rolou essa boa troca de informações. Obrigado Lx.
- Lx,
como se deu a sua parceria musical com Léo Grijó, formando o Stereodubs, e qual
era a intenção inicial do projeto?
Lx: A parceria começou assim que eu cheguei em São Paulo, no
início de 2009. O Léo já morava aqui havia algum tempo e, por coincidência,
fomos dividir o mesmo apartamento com outro amigo. Conversando, começamos a
mostrar uns trabalhos um para o outro e vimos que tínhamos a mesma ideia em
comum: produzir usando elementos pouco usados no Brasil até então. Eu cheguei
com a veia de beatmaker e ele veio com a veia de músico. A intenção inicial era
mesclar reggae, dub, ragga e música brasileira ao rap, e fazer um projeto diferente,
inovando com timbres de música eletrônica.
- Hoje em
dia, o acesso a um computador e softwares é fácil, e surgem muitos novos
beatmakers graças a essa facilidade. O que você vê de consequência nisso?
Lx: Acho que
esse fácil acesso gerou um paradoxo muito louco, porque ao mesmo tempo em que
aparecem novos talentos, também gera uma quantidade grande de “lixo”. Existem
aqueles que correm atrás, estudam e pesquisam até chegar numa segurança de
poder jogar o trabalho na rua com qualidade. E, do outro lado, vêm aqueles que
começam a fazer um beat ali e já se dizem “produtores”, e soltam bases de
qualquer jeito, músicas de qualquer jeito, sem uma qualidade considerável.
- Como é
a relação do Stereodubs com o sample? O mais conhecido trabalho do Stereodubs,
disco em parceria com a Flora Matos, contém samples? Como foi o processo de
construção musical desse disco?
Lx: A gente
trabalha bastante com samples, basicamente em 50% ou mais das nossas produções.
No EP com a Flora, de nove músicas, três foram sampleadas, e foi feito um
complemento com mais instrumentos.
Esse
disco foi feito em 52 dias e a gente trabalhou muito pela internet. A gente
mandava os beats bem no começo e ela já gravava uma guia em casa, pra gente
harmonizar o instrumental. Alguns beats a gente já tinha pronto e, quando ela
chegava com a letra, a gente já gravava. Esse EP foi feito com muito amor, na
sala de um apartamento, e a cabine para gravar voz era de colchões e
cobertores, tudo colado com fita (risos).
- O
Stereodubs caminha entre o rap e reggae, correto? E muito pouco se sampleia
reggae nos raps de hoje. Essa é uma proposta do Stereodubs ?
Lx: Correto.
Não chega a ser uma proposta , mas acho que os ritmos jamaicanos ainda têm
muito a serem explorados, ao contrário da black music antiga, por exemplo, que
já vem sendo sampleada desde o começo em grande escala. A gente só tenta fugir
um pouco da mesmice e fazer um som diferenciado.
- O que
você acha das fontes de sample? Faz diferença, de alguma forma, extrair o áudio
de um vinil, por exemplo? Existe um valor cultural e histórico nisso?
Lx: Dizendo
por mim, eu faço questão de manter essa “tradição” de ir garimpar, pesquisar
sebos e ir correndo para casa, para ouvir aquilo e ver o que encontro de bom
numa bolacha. Sinto prazer em fazer isso, ouvir um por um, comemorar quando vem
aquele sample bom, ou reclamar quando não vem nada (risos). Aprendi assim e vou
levar assim para sempre.
Mas é
lógico que, às vezes, também encontro um sample muito foda num CD ou MP3 que
não acho em vinil, e uso sem problema nenhum. E tenho a mania de... se acho o
vinil anos depois, com algum sample que usei, eu compro ele mesmo assim, para
ficar guardado como registro.
Faço
questão também de samplear e fazer todas as baterias na MPC. Mesmo que não
recorte o sample nela, eu passo por ela mesmo assim. As baterias são 100% nela.
- Na
produção de rap, que beatmakers brasileiros você acha que se destacam nos dias
de hoje?
Lx: Gosto do
Nave, Sala 70, Laudz, Renan Samam, Luiz Café, Munhoz, Dario e DJ Caíque. E tem
os que gosto que se destacam há mais tempo, como Daniel Ganjaman, Zegon, DJ Cia
e o KL Jay.
- Alguns
músicos questionam a legitimidade do sample como composição. Sample é uma
composição? É uma criação musical?
Lx: Com
certeza !!! Acho que se você desconstrói uma musica recortando e monta ela de
outro jeito, já virou outra composição. Até mesmo pegando um sample de loop
completo e adicionando outra linha de bateria por cima, ou até instrumentos,
você está criando outra música ali, colocando a identidade e alma em cima.
- Para onde caminha o futuro das produções de
rap na sua opinião? Nos samples e instrumentos digitais, ou nos instrumentos
acústicos e elétricos?
Lx: Acho que vai continuar caminhando de todas as formas. Tem
gente que gosta de fazer beat só com sample, tem gente que gosta de tocar tudo,
ou misturar sample com mais instrumentos, e por aí vai. O Stereodubs, mesmo,
trabalha com todas essas opções.
Acho que vai da necessidade ou da limitação de cada um.
Às vezes, um músico não tem a manha de recortar samples e um beatmaker não sabe
tocar instrumentos. Então cada um trabalha do jeito que lhe convém.
- Pra
finalizar, a palavra é sua.
Lx: Primeiramente, muito obrigado pelo espaço. Acompanho o
blog sempre e acho que é um espaço bem legal de compartilhamento de ideias e
opniões. Gostaria também de anunciar que nos juntamos a uma escola de produção
musical e abrimos um curso de produção de beats, e um de DJ. O pensamento nisso
é tentar ajudar a quem se interessa, e passar um pouco do nosso conhecimento.
Esse é o link: http://ime.mus.br/
Obrigado.
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